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Itabaiana,04/05/2025

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Áreas de arroz e feijão param de cair, após perderem espaço para soja e milho por 16 anos

g1.globo.com
Áreas de arroz e feijão param de cair, após perderem espaço para soja e milho por 16 anos


Áreas de plantio dos dois alimentos caíram mais de 30%. Número é reflexo de altos custos de produção e baixa rentabilidade do agricultor, mas produtividade mantém abastecimento do país. Como milho e soja vêm tomando área de arroz e feijão há 19 anos
O arroz e o feijão podem ser a combinação mais tradicional do Brasil, mas, em 19 anos, as suas áreas plantadas caíram.
No período, o recuo da área de arroz foi de 43% e o de feijão, 32%. Ao mesmo tempo, a soja cresceu 108% e o milho, 63%, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os dois se tornaram líderes em área plantada no país.
Com a alta da inflação dos alimentos, surge a questão se o Brasil deveria plantar mais comida e menos grãos que viram ração de animais.
Mas isso não, necessariamente, tem relação com a queda da área. O arroz e feijão têm ficado mais barato. No acumulado dos 12 meses até fevereiro, o preço do arroz caiu 4% e o do feijão, 24,35%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA).
Apesar da queda na comparação com 2006, desde a safra 2022/2023, as áreas plantadas de arroz e feijão não caíram mais.
Confira a trajetória do arroz e feijão ao longo dos anos.
Bruna Azevedo / arte g1
A produção de arroz e feijão dá pouco lucro e custa caro. Por isso, muitos agricultores preferiram plantar soja e milho, que valem mais e são exportados.
A soja e o milho são commodities, ou seja, matérias-primas para a indústria, que são negociadas em bolsas de valores internacionais, em dólar, e exportadas como ração para animais de criação, como bois e porcos.
Já o arroz e o feijão são vendidos quase totalmente no Brasil. Seus preços variam de acordo com o tamanho da produção, procura e negociações entre agricultores e a indústria.
No caso do arroz, além da soja e do milho, a área plantada também deu lugar a pastos, afirma a diretora executiva da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), Andressa Silva.
Contudo, isso não significa que o brasileiro tem menos arroz e feijão disponíveis: a quantidade colhida se mantém quase a mesma de 19 anos atrás, devido ao crescimento da produtividade. E, apesar de o volume ser menor do que o da soja e o do milho, o país ainda consegue suprir a necessidade de consumo.
Nesta reportagem, as seguintes perguntas serão respondidas:
Por que a área de arroz e feijão diminuiu?
O que aumentou o faturamento da produção de arroz nos últimos 3 anos?
Por que, mesmo assim, não falta arroz e feijão?
Como reverter a redução?
Por que a área de arroz e feijão diminuiu?
💵Baixo lucro
O lucro do arroz e do feijão é menor do que os custos de produção. Isso desmotivou os agricultores, segundo Silva, diretora executiva da Abiarroz.
Isso acontece, em parte, porque o cultivo estava sendo comercializado em um preço baixo ao consumidor, afirma o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho.
“Porque, se eu não tiver um preço razoável, a indústria não consegue pagar um preço equilibrado aos produtores e, consequentemente, toda a cadeia sai prejudicada pela falta de equilíbrio e acaba diminuindo a área”, completa.
O mesmo vale para o feijão, diz o diretor presidente da Associação Brasileira de Consultores de Feijão (ABC Feijão), Hélio Dal Bello. Com os custos de fertilizantes e defensivos em dólar, e o preço do feijão em queda, o produtor tem tido prejuízo, afirma.
Comparativo da área de feijão entre 2006 e 2023
Bruna Azevedo / Arte g1
💲Caro de produzir
Plantar arroz e feijão custa mais do que plantar soja e milho. O milho custa cerca de R$ 7 mil por hectare e a soja, R$ 6 mil. Já o arroz ultrapassa R$ 12 mil e o feijão, R$ 13 mil, segundo a Conab.
Quem planta arroz gasta mais com máquinas, funcionários, diesel e fertilizantes, pois o solo exige mais cuidados, segundo Velho
"Nós trabalhamos, inclusive, com uma expectativa de aumento do custo de produção para esta safra, pela necessidade de recuperação estrutural das áreas provocadas pela enchente”, afirma.
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A desvalorização do real, pois os insumos são comprados em dólar, e os custos com financiamentos também têm grande impacto, explica Felippe Serigati, coordenador do mestrado em Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Há ainda o chamado “custo Brasil”, aponta Silva. “A logística é muito cara. Para você mandar o arroz para as regiões do Norte e Nordeste, a preferência é pelo transporte de cabotagem [navegação], porque o transporte rodoviário chega a ser até 30% mais caro”, diz.
O plantio de arroz irrigado, que representa 77% da área, também gera custos com água, informa o Diretor Executivo de Política Agrícola e Informações da Conab, Sílvio Porto.
O feijão, por sua vez, é uma cultura mais sensível a pragas e doenças, exigindo mais gastos com defensivos biológicos ou químicos, afirma o diretor presidente da ABC Feijão.
Comparativo da área de arroz entre 2006 e 2023
Bruna Azevedo / arte g1
Mudança de cenário
Apesar dos problemas enfrentados recentemente, a situação para os produtores de arroz está melhorando. O faturamento subiu de R$ 18 bilhões em 2006 para R$ 25 bilhões no ano passado, segundo dados da Conab.
Isso acontece porque a redução da área e o aumento da busca pela exportação diminuíram a oferta, o que elevou a demanda e os preços, diz Alexandre Velho, da Federarroz.
Já Silva pontua que, antes da pandemia, o produtor de arroz sofria com endividamento. No entanto, a situação melhorou com o crescimento dos preços depois disso.
Apesar de serem menores do que há 19 anos, as áreas plantadas de arroz e de feijão cresceram 6% e 16%, respectivamente, da safra de 2022/23 para a deste ano, segundo a Conab.
Para Silvio Porto, da Conab, isso é resultado de políticas públicas, como a redução dos juros, aumento do crédito e apoio técnico aos produtores de arroz e feijão.
Comparativo da área de soja entre 2006 e 2023
Bruna Azevedo / arte g1
Por que, mesmo assim, não falta arroz e feijão?
Apesar da queda da área de plantio, houve um crescimento da produtividade, o que significa que, hoje, o agricultor consegue colher mais arroz e feijão por hectare do que há 19 anos.
Além disso, quase tudo o que o Brasil produz de arroz e feijão fica no país. Apenas 12,5% do arroz da safra 2023/2024 foi exportado, segundo dados da Conab. Em relação ao feijão, esse número cai para 10%.
E, mesmo com o aumento da população, a demanda pelos dois cultivos está em queda.
De 2008 a 2018, a média de consumo diário de feijão por pessoa foi de 183 gramas para 163,2 gramas. No caso do arroz, essa média recuou de 160,3 gramas para 131,4 gramas, mostra a Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O órgão não tem dados mais atuais sobre este tema.
Essa queda, aconteceu principalmente pelo aumento do poder de compra do brasileiro nos anos 2000, que incentivou o consumo de outros produtos.
A praticidade do fast food e a vida corrida também têm diminuído o consumo de arroz e feijão, que levam mais tempo de preparo, diz o presidente da ABC Feijão.
Atualmente, o problema também é a falta de dinheiro de parte dos brasileiros.
“Uma parte da população é tão carente que, quando o preço sobe R$ 0,50, ela precisa diminuir o consumo”, diz Lüders, do Ibrafe.
Ele relata que existem os chamados desertos alimentares, nos quais os consumidores estão longe do varejo tradicional, tendo que recorrer a comércios informais.
"Nestas regiões, para consumir feijão, a população carente paga mais caro”, diz.
Comparação área de milho em 2006 e 2023
Bruna Azevedo / arte g1
Como reverter a redução?
A queda na área plantada de arroz e feijão não é um problema, se a produtividade aumentar e atender à demanda da população, aponta Serigati, da FGV.
Mas, para Porto, produzir arroz e feijão em mais áreas no Brasil resultaria em uma alimentação mais saudável e preços mais baixos.
O presidente da Conab diz que o governo deve usar os estoques públicos para manter os preços acessíveis ao consumidor e atrativos para o agricultor.
Ele acredita que os produtores de arroz e feijão precisam ter mais benefícios, como juros menores e mais assessoramento técnico.
Isso porque o arroz e o feijão tiveram menos apoio do que outros cultivos, como a soja. "É totalmente desequilibrado. É por isso mesmo que a soja já tem hoje uma situação tão privilegiada comparado aos demais produtos”, afirma.
Para o presidente da Federarroz, é preciso um seguro agrícola mais eficiente e barato, para trazer segurança ao produtor.
Ele explica que, para compensar os gastos, o produtor deve vender a saca por, no mínimo, R$ 90, que seria o custo de produção. Já para o consumidor, o preço mínimo deve ser de R$ 5 por kg, para garantir a remuneração da indústria.
Já no caso do feijão, o preço mínimo da comercializado pelo produtor é de R$ 4 por kg, explica Bello, da ABC Feijão.
Para isso ser possível, Silva, da Abiarroz, afirma que é importante aumentar o consumo do brasileiro, com campanhas feitas em parceria entre setor produtor e governo, bem como ampliar o mercado externo.
O investimento em pesquisa para variedades resistentes a doenças pode tornar o plantio mais fácil e rentável, afirma o presidente da Ibrafe.
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